31.1.10

Balada do Asfalto -- Zeca Baleiro


Me dê um beijo, meu amor. Só eu vejo o mundo com os meus olhos. Hoje eu tenho cem anos. Hoje eu tenho cem anos e meu coração bate como um pandeiro num samba dobrado. Vou pisando o asfalto entre os automóveis -- mesmo o mais sozinho nunca fica só, sempre haverá um idiota ao redor.

Me dê um beijo, meu amor. Os sinais estão fechados e trago uns trocados pro café. O futuro se anuncia num outdoor luminoso; Luminoso o futuro se anuncia num outdoor.

Há tantos reclamos pelo céu, quase tanto quanto nuvens.Um homem grave vende risos, a voz da noite se insinua -- e aquele filme não sai da minha cabeça. E aquele filme não sai da minha cabeça.

Rumino versos de um velho bardo, parece fome o que eu sinto. Eu sinto como se eu seguisse os meus sapatos por aí. Eu sinto como se eu seguisse os meus sapatos por aí.

Há alguns dias atrás vendi minha alma a um velho apache. Não é que eu ache que o mundo tenha salvação, mas como diria o intrépido cowboy, fitando o bandido indócil: A alma é o segredo, a alma é o segredo. A alma é o segredo do negócio.

--- Sem mais, porque não precisa.