5.2.14

Como um espelho...

Lendo O Último Voo do Flamingo, deparo-me com a fala do feiticeiro, que de tão certeira e acertada, arrepia-me

"Falam do colonialismo. Mas isso foi coisa que eu duvido que houvesse. O que fizeram esses branco foi ocuparem-nos. Não foi só a terra: ocuparam-nos a nós, acamparam no meio das nossas cabeças. Somos madeira que apanhou chuva. Agora nem acendemos nem damos sombra. Temos que secar à luz de um sol que ainda não há. Esse sol só pode nascer dentro de nós." (p. 155)

Encantada com a poesia e a pungência de Mia Couto, penso que esse livro tão moçambicano ergue-se como um imenso e assombroso espelho a quem o lê. 

Retirei a citação da edição publicada no Brasil pela Companhia das Letras em 2000.