17.8.09

Rebote

Feliz, ao rever suas primas, apesar de não compreender muito bem porque as três estavam ali reunidas -- afinal de contas, elas sequer se conheciam --, X. não contestou nem conjecturou muito. Duas eram filhas de suas tias maternas e uma era filha de seu tio paterno. Avistavam uma bela praia da janela do apartamento localizado imprecisamente ali, no décimo primeiro andar. Não, não se recordava do andar. Recordava que era alto, muito alto, avistava a praia, quase vazia e uma espessa nuvem preta à esquerda na paisagem. A nuvem era tão espessa e tão escura que parecia haver somente o nada à esquerda ou, talvez, mais do que isso, o desconhecido. Ou talvez o nada e o desconhecido fossem o mesmo, mas ela não entendia essas coisas.

Foram à praia. Contentes estavam pelo sol que havia sobre elas, já que estavam do lado direito, e entraram no mar. X. só abriu os olhos novamente para sentir a incansável correnteza. Mas X. não precisava abrir os olhos para isso. Mas foi assim, só depois de abrir os olhos é que apercebeu-se da correnteza e teve medo e, com o medo, sentiu-se ansiosa. A sua frente havia um salva-vidas que parecia estático, parecia inafetado pela intensa correnteza que X. sentia. Mas o salva-vidas sentia a correnteza também, apesar de parecer congelado como uma fotografia. Sua expressão era congeladamente fotográfica, até que balançou a cabeça sinalizando que não a ajudaria, ele estava na mesma água que ela, sendo puxado pela mesma correnteza, mas parecia tão de fora. É claro, X., em seu desespero egoísta, não se deu conta de que outros poderiam sentir o mesmo desespero ao mesmo tempo que ela e, por isso mesmo, não tinham forças para ajudá-la. Não, X. não pensou nisso.

Desistiu de lutar e deixou-se levar pela água, cuja força e vivacidade pareciam brotar de um organismo em expansão que ensaiava explodir. X. fechou os olhos novamente. Não porque decidiu fazer isso, mas porque seu corpo fê-lo por ela. Fechar os olhos não era uma decisão a ser tomada, não era um ponto sobre o qual pensar. Ele simplesmente aconteceu e ela só se deu conta depois. O que via agora era a escuridão vazia que a chacoalhava. Não, isso ela pensou depois. Nada chacoalhava na escuridão. A escuridão era imóvel como uma fotografia.

Abriu os olhos novamente. Estava na água, que já não se movia mais, e sabia que abaixo de seus pés havia asfalto. Olhou em volta, tudo estava em seu lugar, apesar de estranhar um pouco, mas nem tanto, a água ao redor. Ali estavam os bancos à sombra das árvores na calçada que ficava rente à praia, que agora estava abaixo da água e não podia ser vista, mas seria possível caminhar sobre ela, se X. assim quisesse. Mas X. nem pensou nisso. Levantou-se e fechou os olhos, desta vez, porque acordou.

Um comentário: