8.12.09

Brian Friel e a Rússia dos seus sonhos

Abandono, abandono, isso não se faz. Abandono deste espaço de divagações, isso não se faz.

Na semana passada, li um artigo sobre o modo como Brian Friel identifica-se com a Rússia de Chekhov e de Turgenev. Sobre como toda aquela melancolia transpõe às barreiras nacionais e ecoa tão pungentemente no coração irlandês. Algumas citações nesse artigo levaram-me a um livro de algumas entrevistas com o Friel e excertos de diários. Preciosos pensamentos perdidos, meditações entre um dia e outro em meio à angústia da produção criativa.

E segue um excerto do diário do Friel de 2 de junho de 1977, em minha voz:

"O que faz de Chekhov acessível aos ma
is diversos tipos de pessoas por mais de 180 anos é a sua proposta de tristeza, a familiaridade da melancolia -- em detrimento da designação capciosa que seu trabalho recebe de 'Comédia'. A tristeza e a melancolia confortam. Mas a tragédia não. A tragédia pode por desfechos. Chekhov temia desfechos."

E o mais curioso é que Friel fez uma versão de
As Três Irmãs sem entender uma palavra de russo. Reuniu cinco traduções da peça em inglês padrão e criou a sua própria. Uma versão chekhvoviana-irlandesa. Ele acreditava que havia algo além da compreensão da língua na qual a peça foi originalmente criada. Ele procurava significados e essências, ritmo e fluidez.

2 comentários:

  1. O Tchekov com medo de desfechos, eu com medo de "essências", quanto mais pensando em "essências" cristalizadas em papel e tinta. Acho que as coisas são mais fluidas que isso, e que se há algo a mais em qualquer escrita ele é humano e material, inserido numa história.Mas sei lá o que o cara queria dizer com o 'a mais' nas escritas... Posso estar só de implicância, o que não é muito difícil. Enfim, Não rola de discutir tais coisas em um espaço insosso como o da internet. Sinto falta de tapas na mesa e entonações de voz. Mas de fato, o experimentalismo deste moço é deveras interessante haha.


    E teu comentário no último texto meu me deixou boba. =)

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  2. Quando o Friel fala de 'essências', ele me parece estar falando de uma alma. Ele procura almas para as personagens, quem elas são, o que querem e o que, todas elas em conjunto, apresentam ao leitor/espectador. Qual é a 'essência' que te incomoda? Acho que te entendo. Acho que partes do pressuposto hermenêutico das várias possibilidades de leitura de um texto. Acho que não gostas do isolamento a uma verdade, à suposta 'verdadeira natureza' do trabalho. Se assim for, temo tanto quanto temes. Mas, creio eu, a partir dos diversos excertos de diários do Friel, que ele fala dessa alma...

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