5.12.10

Das paisagens da memória

É incômoda a imposição que se recebe ao escutar a pergunta: 'de onde você é?'. Responder a essa pergunta com sinceridade implica agrupar-me numa determinada categoria mental onde todas as pessoas desse lugar ou dessa região habitam? A que cultura eu pertenço? Ou de quantas culturas eu faço parte?

Escutava 'Scarborough Fair' de Simon e Garfunkel enquanto caminhava em direção à universidade nesta manhã de domingo ensolarada com nuances brancas espalhadas pelo chão e pelos telhados quando me sobreveio uma entorpecente sensação de casa. A música remeteu-me à minha infância, às noites frias e aconchegantes dos meus sete anos de idade quando meu pai e eu íamos às Vivendas, à casa que ele levou tantos anos para construir. 'Scarborough Fair' é tão minha quanto de Simon ou de Garfunkel, é tão minha quanto de americanos ou, quem sabe, até mais minha do que de todos eles juntos. O frio da minha paisagem atual provavelmente não era o mesmo do cenário da infância, mas, naquela época, para mim, a sensação de frio era igual. A música do meu pai, que por tantos anos tocador de LPs dele (era mais moderno do que uma vitrola!), toca agora no meu mini-tocador portátil. Apropriei-me da música dele e ele, por sua vez, apropriou-se da música de outrem. Essa música é a minha história. E onde estou agora, desse lugar faço a minha casa, onde reúno as fotos do passado com os seus cheiros, suas músicas e os seus sentimentos, juntamente com os momentos presentes e as vontades do futuro.

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